6º Seminário Nacional de Perdas começa nesta terça-feira em Belo Horizonte. Leia entrevista com a palestrante Rita Cavaleiro, do ProEESA 2

 

Nesta terça-feira, dia 15 de outubro, terá início, em Belo Horizonte, Minas Gerais, a sexta edição do Seminário Nacional Gestão de Perdas de Água e Eficiência Energética. O evento reunirá especialistas de diversas áreas do saneamento do Brasil para compartilhar conhecimento e experiências práticas para o enfrentamento das perdas de água e a busca de eficiência energética nos sistemas de abastecimento (veja aqui a programação).

 

Entre os palestrantes está Rita Cavaleiro, coordenadora do ProEESA 2 (Projeto de Eficiência Energética no Abastecimento de Água), uma cooperação entre a Secretaria Nacional de Saneamento do Ministério de Desenvolvimento Regional e o Ministério Federal da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento da Alemanha, executada pela Cooperação Alemã – GIZ.A especialista, que ao lado de Rodrigo Bicalho Polizzi (da Coordenadoria Técnica de Regulação e Fiscalização da ARSAE-MG – Agência Reguladora dos Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário do Estado de Minas Gerais), integrará o Painel 5 do evento sobre o tema “Gestão de Perdas”, conversou sobre sua participação com o Portal ABES Notícias. Veja a seguir a entrevista:

ABES Notícias – Em sua visão, qual a importância do 6º Seminário Nacional de Gestão de Perdas de Água & Eficiência Energética?

 

Rita Cavaleiro – Tanto os seminários nacionais da ABES, como os congressos são momentos especiais no ano para a troca de ideias. Para inspirar e ser inspirado. Estes eventos são canais de divulgação importantes e de encontro entre especialistas. É extraordinário a ABES proporcionar estas oportunidades aos profissionais do setor há tanto tempo com continuidade e regularidade.

 

Em 2017 a Câmara Técnica de Perdas de Água da ABES ampliou o seu escopo para a eficiência energética. Isso coincidiu com o “Projeto de Eficiência Energética em Sistemas de Abastecimento de Água (ProEESA), que é uma cooperação entre a Secretaria Nacional de Saneamento (SNS) do Ministério de Desenvolvimento Regional (MDR) e o Ministério Federal da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento da Alemanha (BMZ), por meio da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH. Todos são muito beneficiados com a troca de informações com a Câmara Técnica de Perdas de Água & Eficiência Energética da ABES.

 

 

 

ABES Notícias – De que forma este debate pode contribuir para reduzir o desperdício de água no Brasil?

 

Rita Cavaleiro – No debate assistimos a argumentações que podemos usar nos diálogos cotidianos no lugar de trabalho de cada um. É importante para formarmos as nossas opiniões sobre a gestão de perdas de água e energia e evoluirmos nelas. Nesse sentido, a ABES tem desempenhado um papel fundamental no setor, promovendo o debate e fazendo com que os pequenos incrementos de inovação circulem entre os profissionais com maior fluidez e dinamismo.

 

 

 

ABES Notícias – O tema do seu painel será “Gestão de Perdas”. Sob quais aspectos o assunto será abordado?

 

Rita Cavaleiro – Neste painel vou falar de metas progressivas de perdas de água. Elas deveriam corresponder aos níveis econômicos que são os níveis que deveriam ser mantidos.

 

Níveis baixos de perdas – próximos de zero – requerem práticas caras que a sociedade não está disposta a suportar. O mesmo se dá com níveis altos de perdas, que geram desperdício de custos de produção ou impedem a arrecadação de receitas devidas.

Os níveis econômicos de perdas são distintos para cada região porque a disponibilidade hídrica é distinta, assim como os custos de mão de obra e materiais. Não faz sentido estabelecer a mesma meta de perdas de 15% em alguns estados. São contextos diferentes e o nível ótimo de perdas é distinto.

As metas precisam de ser subdivididas em aparentes e reais, porque as abordagens de atuação são totalmente diferentes. Uma meta conjunta de perdas reais e aparentes é uma visão demasiadamente distante do problema que não permite identificar em qual componente as perdas estão melhorando ou agravando.

 

 

 

ABES Notícias – Você atua no setor de saneamento há 20 anos. Em sua visão, quais são os principais problemas do saneamento básico no país e como resolvê-los?

 

Rita Cavaleiro – Tipicamente a energia costuma a ser primeira ou segunda posição de custos em um prestador de serviço. No Brasil, porém, os custos com folha ocupam há algum tempo o primeiro lugar e são desproporcionalmente mais elevados em relação à energia que em outros países. De fato, custos crescentes de folha constituem uma “armadilha de baixa eficiência” nas empresas (low-efficiency trap), que descapitaliza os prestadores de serviços. Ela reduz as capacidades das empresas para expandir o sistema (universalização dos serviços), para manter e conservar as infraestruturas (gestão e reposição de ativos), assim como para implementar medidas de eficiência energética, que poderiam liberar recursos porque evitam custos.

 

Na low-efficiency trap assiste-se a uma degradação da qualidade do serviço durante um período de 10 a 15 anos até que, no limite, o sistema colapsa.

Seria importante romper com essa armadilha, encontrando um equilíbrio saudável entre os custos com folha e os de expansão / conservação das infraestruturas. Isso requer uma visão para que vai além do período do ciclo de gestão da administração pública (de 4 anos) e uma estabilidade na atuação em horizontes de 10 – 15 anos.

Os serviços de saneamento básico inserem-se em um setor intensivo em infraestruturas, pelo que a gestão de ativos deveria ocupar um lugar mais central.

 

 

 

ABES Notícias – Quais foram suas principais experiências na área de saneamento em países da Europa com relação à gestão de perdas de água? Como podem ser aplicadas no Brasil?

 

Rita Cavaleiro – O balanço hídrico, apesar de ser uma metodologia com mais de 25 anos entre pesquisadores e acadêmicos, continua sendo uma novidade para muitos prestadores. Penso que em alguns países europeus existiram saltos qualitativos na gestão de perdas de água, porque um ente externo (por ex. agências reguladoras), pede um balanço hídrico. Ter um balanço não significa necessariamente estar com um bom nível de perdas de água, mas ter dados razoáveis e séries temporais com uma metodologia definida é uma condição base para inferir as relações causa – efeito. Cruzar as informações do balanço hídrico com as medidas tomadas permite conhecer o comportamento do sistema na questão de perdas de água e atuar de modo mais assertivo sobre ele.

O balanço hídrico embasado em procedimentos escritos deveria fazer parte da prestação de contas anual das companhias de água.

 

ABES Notícias – Atualmente, você é coordenadora do ProEESA 2 – projeto de Eficiência Energética no Abastecimento de Água. Quais são os principais avanços sobre gestão de perdas de água que o projeto traz?

 

Rita Cavaleiro – Estamos no início da segunda fase do ProEESA e ainda é cedo para falar de resultados ou de avanços, mas podemos dizer que no primeiro semestre de 2020 pretendemos iniciar uma rede de aprendizagem com agências reguladoras, onde vamos trabalhar em cima de instrumentos regulatórios de gestão de perdas de água e energia. Embora os reguladores sejam o público alvo primário desta rede inclua, os prestadores de serviço também são bem-vindos, pois podem aplicar os mesmos instrumentos em modo de autorregulação ou regulação interna.

Nesta rede os participantes vão realizar estudos prévios adequados ao seu contexto que embasem um diálogo técnico entre regulador e regulado e que façam a eficiência energética mais tangível.

Está previsto sair pelo Ministério de Desenvolvimento Regional o edital para a chamada de entidades participantes no final de 2019 ou no princípio de 2020. Estamos empolgados com essa iniciativa com duração de cerca de um ano e que vai começar em breve.

14-10-2019