Rastros do Sars-CoV-2 pode aparecer nas fezes dentro de três dias após a infecção – bem antes do desenvolvimento de sintomas graves. Transmissão por fezes e urina ainda não está comprovadaA análise do esgoto poderá ajudar pesquisadores e governos a mensurar o avanço do coronavírus e estimar o quanto uma comunidade ou cidade foi afetada pela pandemia, de acordo com a revista Nature.
A medida é apontada como uma alternativa à escassez de testes específicos para detectar a presença do vírus na população – e serve para ter uma análise geral da pandemia, e não para casos individuais.
Até agora, segundo a Nature, os pesquisadores encontraram vestígios do vírus em esgotos da Holanda, Estados Unidos e Suécia.
Embora não haja comprovação de que o Sars-CoV-2, o novo coronavírus, possa contaminar pela urina ou fezes, a análise de águas residuais – que passa pelo sistema de drenagem até uma estação de tratamento – é uma maneira de os pesquisadores rastrearem doenças infecciosas e pode dar às autoridades uma vantagem para determinar medidas de bloqueio.
Sars-CoV-2 pode aparecer nas fezes
Estudos mostraram que o Sars-CoV-2 pode aparecer nas fezes dentro de três dias após a infecção – muito antes das duas semanas, em média, que os pacientes infectados levam para desenvolver sintomas graves e obterem um exame diagnóstico oficial.
“Sete a dez dias podem fazer muita diferença na gravidade desse surto”, diz Tamar Kohn, virologista ambiental do Instituto Federal Suíço de Tecnologia em Lausanne.A microbiologista Gertjan Medema, do KWR Water Research Institute em Nieuwegein, na Holanda, afirma que uma estação de tratamento de esgoto pode capturar resíduos de mais de um milhão de pessoas, incluindo quem está com sintomas leves ou são assintomáticos.
“As autoridades de saúde estão apenas vendo a ponta do iceberg”, afirma Medema à revista Nature, referindo-se ao panorama restrito da pandemia baseado apenas em testes.
O potencial retorno do vírus
Medidas de controle de infecções, como o distanciamento social, provavelmente suprimirão com o tempo, mas o vírus poderá retornar assim que as pessoas voltarem a circular.
A análise rotineira de águas residuais pode ser usada como uma ferramenta de vigilância não invasiva para alertar as comunidades sobre novas infecções por Covid-19, diz Ana Maria de Roda Husman, pesquisadora de doenças infecciosas do Instituto Nacional Holandês de Saúde Pública e Meio Ambiente. O instituto já monitorou o esgoto para detectar surtos de norovírus, bactérias resistentes a antibióticos, poliovírus e sarampo.
Para quantificar a escala de infecção em uma população a partir de amostras de águas residuais, os grupos de estudo precisarão descobrir quanto RNA do vírus é eliminado nas fezes e comparar com o número de pessoas infectadas em uma população.
Os pesquisadores também precisarão garantir que estejam analisando uma amostra representativa do que está sendo excretado pela população e não apenas uma amostra no tempo, e que seus testes possam detectar o vírus em níveis baixos, afirmam à Nature cientistas da Aliança Queensland para o Meio Ambiente. Os esforços também precisam driblar a falta de reagentes para os testes – os mesmos reagentes usados para detectar coronavírus na população.
Fonte: G1.
16-04-2020