Estruturas para conter rejeitos ainda são insuficientes, afirma Ibama



As últimas estruturas construídas pela Samarco – barreira de Novo Santarém e o dique S4 – para impedir o escoamento de rejeitos provenientes da área afetada pela ruptura da barragem de Fundão, em Mariana, na região Central do Estado, não são suficientes para controlar a movimentação da lama no período de chuvas e a consequente degradação do meio ambiente. A constatação é do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).

 

“Dentro do Complexo de Germano, os rejeitos estão contidos. O Ibama fez o monitoramento e percebemos que a situação está controlada. Fora dos domínios da mineradora, no entanto, a mobilização dos rejeitos continua. A poluição e degradação seguem ocorrendo, pois mais da metade da lama que saiu de Fundão ainda se encontra depositada em um trecho de mais de 115 km na região”, alertou o superintendente do Ibama em Minas Gerais, Marcelo Belizário.

 

De acordo com Belizário, os atrasos nas obras de contenção de rejeitos na área entre Bento Rodrigues, distrito de Mariana, e a Usina de Candonga, na Zona da Mata; e a drenagem insuficiente do volume de resíduos nessa extensão são os fatores responsáveis pela movimentação da lama na região no período de chuvas no Estado.

 

“De maneira geral, as vistorias do Ibama apontaram muitas obras com atrasos generalizados. Além disso, os rejeitos acumulados ainda precisam ser retirados para que se possa iniciar a recuperação ambiental nessas áreas. Mas não é uma questão simples. Até porque os rejeitos depositados envolvem terrenos de terceiros”, salientou.

 

Nos dias 16 e 17 deste mês, o Ibama enviará uma equipe do órgão para verificar a situação da região.

 

Samarco defende obras

 

Segundo a Samarco, as duas últimas obras concluídas (barreira de Nova Santarém e dique S4), serviram para complementar os demais trabalhos de contenção dentro do Complexo de Germano, dando "mais robustez e segurança ao sistema".

 

A construção do dique S4, que fica em Bento Rodrigues - distrito de Mariana mais afetado pelo rompimento da barragem de Fundão -, foi finalizada no dia 27 de janeiro e, já neste fim de semana, foi registrada uma chuva forte, com 70 mm de precipitação em uma hora, que acabou servindo como teste da capacidade das novas estruturas.

 

Com a conclusão dos trabalhos, foi elevada para 6 milhões de metros cúbicos a capacidade de retenção de sedimentos remanescentes da tragédia, que matou 19 pessoas em novembro de 2015. Os trabalhos de contenção dos rejeitos que ainda estavam depositados na região começaram ainda no início de 2016, com os diques S1 e S2 em janeiro. O dique S3 foi construído em fevereiro, mas em novembro do ano passado passou por um alteamento.

 

"O dique S4 já está cumprindo sua função, que é de reter todos os sólidos que ficaram depositados na região de Bento. Se a gente não tivesse construído ele, com estas chuvas, o material seria carreado para o rio Gualaxo e, de lá, para o rio Doce. É uma obra temporária. O dique será desativado assim que definirmos como será a recuperação final de Bento", explicou o diretor de operações e infraestrutura da Samarco, Rodrigo Alvarenga Vilela.

 

Ainda de acordo com o o diretor de operações e infraestrutura da mineradora, agora a empresa tocará as medidas de reabilitação das áreas afetadas, em conjunto com a fundação Renova. "Acho importante ressaltar que houve especulações de que a Samarco iria utilizar o dique como barragem de rejeitos. Nunca houve essa intenção. As estruturas da empresa terminam no dique S3, depois disso são apenas obras de contenção", completou.

 

Polêmica

 

Quando a construção do dique S4 foi anunciada, a ideia foi rejeitada pelos antigos moradores do distrito, que eram contrários à inundação da área onde viviam. Na época, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) chegou a pedir a avaliação da necessidade da construção da estrutura, porém, ainda conforme a Samarco, todas as dúvidas foram explicadas ao órgão e a obra autorizada.

 

Apesar da capela e o cemitério de Bento Rodrigues não estarem na área que poderá ser inundada, um muro colonial centenário que existe no distrito ficará sob as águas. "Infelizmente, para garantir que os rios não sejam mais poluídos, o muro e o curral serão inundados caso alcancemos a capacidade máxima do dique. Apesar disso, foi feita, em conjunto com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), uma proteção para que, quando o dique for esvaziado, a estrutura seja preservada", finalizou Vilela.