As Minas Geraes já se encontram a todo o vapor para mostrar seus desafios e exemplos sustentáveis no 8º Fórum Mundial da Água, o maior evento global sobre recursos hídricos, e que este ano será realizado pela primeira vez no Hemisfério Sul. Esta foi a principal abordagem do “Seminário Ciência e Tecnologia – Água e Produção”, realizado pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), em Belo Horizonte, e que marca o início da preparação rumo ao evento.
O tema desta edição do Fórum é “Compartilhando Água” e tem como missão promover a conscientização popular sobre o uso e a gestão dos recursos hídricos, construir compromissos políticos e provocar ações em temas críticos relacionados à água.
Minas abriga alguns dos rios e bacias hidrográficas mais importantes para o abastecimento do país. Mas também ainda sofre com a escassez hídrica que assola o Brasil desde 2015. Dados divulgados recentemente pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec) apontam que 46 municípios mineiros já estão em período vigente de seca ou estiagem.
Esse cenário, inclusive, impacta diretamente o setor industrial, segundo maior consumidor de água no mundo (22%), atrás apenas do setor agropecuário (com 70% do uso), segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).
Segundo o presidente da Fiemg, Olavo Machado Jr., o uso e a boa gestão de recursos hídricos é de extrema importância, independentemente do setor. “A recente crise hídrica enfrentada pela Região Metropolitana de Belo Horizonte, e que ainda persiste em diversas regiões do Estado, representa um enfático alerta para a urgência de investirmos em tecnologias destinadas a economizar e tratar nossas águas. Não podemos relaxar!”, enfatiza.
Para vencer esse desafio, o líder empresarial citou o “Pacto de Minas pelas Águas”, iniciativa da Fiemg lançada em 2015 com a presença do governador Fernando Pimentel. Realizada em parceria com o governo estadual, indústrias e entidades representativas do setor produtivo, o Pacto se tornou um instrumento fundamental para evitar o agravamento da crise hídrica, destacando ações pontuais de utilização e reúso de água, bem como de mudanças nas práticas de produção. Olavo também citou as ações da Fiemg no apoio e na busca permanente da inovação. “Projetos como o ‘Fiemg Lab’, lançado no Dia Mundial da Água, e o ‘P7 Criativo’, que começa a operar em breve, incentivam startups e iniciativas intensivas em tecnologia para a indústria.”
TRABALHO CONJUNTO
Em parceria com a Fiemg, o Conselho de Empresários para o Meio Ambiente (Cema), está desenvolvendo ações de divulgação e apoio à participação de Minas no 8º Fórum Mundial da Água. Segundo seu presidente, José Alberto Salum, a instituição se junta ao esforço de todo o Sistema Fiemg para que, até março de 2018, discuta-se amplamente o tema da gestão de recursos hídricos: “O primeiro passo dado foi o seminário. A proposta agora é apresentar e discutir a importância da inovação tecnológica e os gargalos para seu desenvolvimento e ampliação em todas as cadeias produtivas, no apoio a produtos e processos com o menor impacto sobre nossas coleções hídricas, nossos rios, aquíferos, lagos e reservatórios”.
Já a secretária-executiva do Cema, Patrícia Boson, adiantou que uma série de eventos temáticos será realizada na capital mineira em consonância com o Fórum.
E incluem desde mobilizações até exposições nos museus do Circuito Cultural da Praça da Liberdade, em BH. Elas abordarão desde a história da água até sua importância para elementos culturais como a cachaça. E, mais recentemente, as cervejas artesanais.
Patrícia acredita que o Fórum Mundial é uma oportunidade para que Minas ocupe um espaço de destaque no evento: “O foco principal é o Estado e sua vantagem competitiva no que concerne à disponibilidade hídrica, capacidade gerencial para um desenvolvimento sustentável, oportunidades de investimento, base tecnológica consistente e uma indústria engajada com o que há de mais moderno na competitividade”. POSTURA NECESSÁRIA
Também presente no seminário, Newton Lima Azevedo, um dos 35 governadores integrantes do Conselho Mundial da Água, ressaltou o valor da palavra juntos para que ações concretas sejam realizadas. Ele conta que o programa “Rumo a Brasília 2018” foi idealizado após a conscientização e mobilização de milhares de pessoas na América Latina. “A questão da seca nos estados de Minas, São Paulo e Rio de Janeiro nos ajudou, pois a sociedade descobriu que realmente poderia e pode, cada vez mais, faltar água em suas torneiras. Seja no bairro do Leblon, no Rio, ou em qualquer outro lugar do planeta”, apontou. “A minha geração foi culpada, omissa ou conivente com essa situação. Mas fiquei feliz ao ver durante a idealização do Fórum como a nossa juventude está nos ‘asfixiando’ com boas ideias sobre o tema da água”, disse ele, acrescentando que é necessário que a sociedade civil seja ainda mais participativa.
“Precisamos ter mais postura para exigir dos governos ou ficaremos como estamos agora. Muitos sofás ainda são jogados nos rios pela população; mas ela continua colocando a culpa no prefeito”, conclui Azevedo.
Saiba mais
O Fórum Mundial da Água é o maior evento global sobre o tema e é organizado pelo Conselho Mundial da Água, uma organização internacional que reúne interessados na gestão dos recursos hídricos. O evento contribui para o diálogo no processo decisório a nível global, visando o uso racional e sustentável do recurso. Por sua abrangência política, técnica e institucional, uma de suas características é a participação democrática de um conjunto de atores de diferentes setores. A iniciativa é organizada a cada três anos juntamente com o país e a cidade anfitriã. Ao todo, já ocorreram sete edições em sete países de quatro continentes: África, América, Ásia e Europa.
Site: worldwaterforum8.org/pt-br
'Molhando' a pauta contra a escassez
Confira os principais trechos do discurso do presidente do Sistema Fiemg, Olavo Machado, no primeiro evento oficial realizado no Estado
“O debate sobre recursos hídricos e sobre o desenvolvimento de tecnologias inovadoras nessa área é de fundamental importância para o futuro da indústria. Estamos convencidos da necessidade imperiosa de redução do consumo de água, da importância de elevarmos o reuso e a reciclagem de água! Estas são ações imperativas para a competitividade de nossas empresas.
“Cuidar das águas é dever e responsabilidade de todos! O equilíbrio hídrico das nossas cidades e das áreas rurais é uma preocupação real e atual da indústria. Muito mais do que uma visão romântica de defesa de um bem natural, enxergamos a escassez hídrica como uma enorme ameaça ao desenvolvimento econômico, social e ambiental de Minas Gerais e do Brasil. Ou seja, cada vez temos de ‘molhar’ as pautas das nossas atividades, em se pensando um futuro comum para toda a humanidade’.”
“A recente crise hídrica enfrentada pela Região Metropolitana de Belo Horizonte – e que ainda persiste em diversas regiões de Minas Gerais – representa um enfático alerta para a urgência de investirmos em tecnologias destinadas a economizar e tratar nossas águas. Não podemos relaxar!”
“Em 2015, no ponto mais agudo da crise, o Fórum das Entidades Empresariais mineiras se associou ao Governo do Estado para construir o Pacto de Minas pelas Águas, lançado também aqui, na sede da nossa Federação das Indústrias, com a presença ilustre do governador Fernando Pimentel.”
“Os esforços para o desenvolvimento de inovação e tecnologia estão presentes em uma série de ações coordenadas pelo Sistema Fiemg.
“Projetos como o Fiemg Lab, lançado na última semana, no Dia Mundial da Água, e o P7 Criativo, que começa a operar em breve, incentivam startups e iniciativas intensivas em tecnologia para a indústria.”
“A questão hídrica certamente já ocupa - e ocupará cada vez mais - posição de destaque nessas ações que se somam às pesquisas desenvolvidas nos laboratórios do nosso Centro de Inovação e Tecnologia Senai-Fiemg, no Campus Cetec.”
“Debater este tema e planejar a participação de Minas Gerais no 8º Fórum Mundial das Águas, que acontece em Brasília, em março de 2018, é a missão à qual nos dedicamos neste momento, de alta relevância para o setor produtivo mineiro, suas entidades representativas, o poder público e toda a sociedade do nosso Estado.”
“Sabemos muito bem que esta é uma missão que não se cumpre da noite para o dia! É preciso planejamento e engajamento das nossas empresas, do governo, de entidades representativas da sociedade. Foi assim que trabalhamos - com grande sucesso - no ‘Pacto de Minas pelas Águas’. Será desta mesma forma que conduziremos as ações do Fórum Mundial da Água até março do ano que vem.”
“O Sistema FIEMG, por meio do Sesi, disponibiliza para toda a indústria mineira o ‘Programa Minas Sustentável’. Criado em 2011, este programa incentiva e orienta os empresários mineiros a adotarem processos produtivos cada vez mais sustentáveis.”
“Os resultados são expressivos. Nossos técnicos já visitaram 5.287 empresas, em 299 diferentes municípios. Por meio do apoio do ‘Minas Sustentável’, 407 licenças ambientais foram concedidas para empresas mineiras. Outras 1.281 foram orientadas para a ecoeficiência, e 2.861 trabalhadores e empresários foram capacitados.
“Este ano, em parceria com a Semad-MG, o ‘Minas Sustentável’ participa ativamente do projeto ‘FAPI’, voltado para a fiscalização preventiva na indústria. Cada Regional da Fiemg já está sediando um workshop, com participação do Governo do Estado, para que as ações sejam explicadas e a regularização incentivada.”
“É mais uma ação que vai muito além do cumprimento de normas e da legislação ambiental, mas que constrói novos horizontes para que nossas empresas sejam sustentáveis e, cada vez mais, hídricas e competitivas.”
27-04-2017