O Estado mais rico do país tem, entre lixões e aterros precários, 43 locais inadequados de descarte de resíduos para onde são levadas mais de 14 mil toneladas de material por dia
Por Mara Gama.
A disposição do lixo nesses locais afeta a saúde de cerca de 11 milhões de pessoas. Moradores das localidades próximas aos lixões, funcionários de serviços de limpeza urbana e catadores de materiais recicláveis são os principais grupos afetados por doenças que decorrem do problema. Além do dano direto às pessoas que têm contato com esses materiais, os lixões degradam continuamente o meio ambiente das áreas de entorno, poluindo ar, solo e cursos de água, contaminando plantas e animais com substâncias tóxicas e atraindo vetores de doenças.
Panorama Anual Brasileiro – ABRELPE
Os dados são de um novo levantamento feito pela Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública) e já contam com informações de 2016. Em setembro, será divulgado o panorama anual brasileiro que a associação realiza, baseada em informações dadas pelas prefeituras.
De acordo com esse levantamento, o Estado de São Paulo gasta mais de R$ 420 milhões por ano para saúde e recuperação ambiental conectados diretamente aos lixões. Estão contabilizados os tratamentos e o impacto das perdas de dias de trabalho por afastamento médico.
O estudo focaliza o Estado de São Paulo usando o mesmo critério de uma estimativa já feita internacionalmente e segundo a qual ao menos 1% da população desenvolve doenças causadas pelo descarte e destinação incorretos de resíduos.
“Se no Estado mais avançado e mais rico do país ainda não conseguiram acabar com lixões, que dirá no resto”, indaga Carlos Silva Filho, diretor presidente da Abrelpe. “Ao mesmo tempo, São Paulo tem empreendido ações concretas para acabar com eles. Os seis lixões fechados nas cidades de Areiópolis, Itapeva, Itápolis, Leme, Osasco e Ourinhos do fim de 2016 para o começo de 2017 já fizeram diferença”, diz Silva.
Fechamento de lixões
Segundo ele, o fechamento desses locais trouxe economia de R$ 61 milhões para o orçamento e benefício direto para 1 milhão de pessoas. A Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Estado tem como meta acabar com todos os lixões e aterros inadequados, de acordo com o programa “Lixão Zero”.
Silva diz que os números do estudo da Abrelpe comprovam que não é possível manter os lixões, proibidos por lei desde 1981 e proscritos também pela Política Nacional de Resíduos Sólidos , de 2010. “E fica mais evidente que tem de haver uma solução especial para o lixo orgânico”, diz.
“Durante muito tempo, ficamos insistindo no aumento da reciclagem e no tratamento dessa chamada fração seca do lixo. Isso não perdeu a validade, mas a parte seca é apenas 1/3 do total, sendo que os orgânicos são mais da metade.”
Outras soluções
Se fossem processados os orgânicos de forma local, metade dos resíduos domésticos seria desviada da rota do aterro. “Há soluções de baixíssimo custo para isso”, diz Silva, referindo-se a experiências de compostagem familiar e coletivas em pequena escala.
Apesar de ver com bons olhos as verbas anunciadas pelo governo federal neste mês de julho para as áreas de saneamento e resíduos sólidos das prefeituras, Silva não crê que investimento pontual resolva o problema dos lixões no país.
“O grande problema não é o recurso do investimento inicial. É de custeio das soluções. As prefeituras que aplicarem os recursos para criar aterros e não implantarem formas de manter a gestão dos resíduos não vão resolver”, diz.
Ele diz que já viu algo semelhante na história recente do país: “Nas décadas de 1990 e 2000, houve um movimento de reforma de lixões para aterros remediados, mas, depois, sem verba de manutenção, esses aterros voltam a ser lixões”, afirma.
Estimativa de Investimentos
No Brasil, 76,5 milhões de pessoas são afetadas pela destinação inadequada das 30 milhões de toneladas de resíduos dispostas em lixões ou aterros.
A Abrelpe estima que investimentos de R$ 7,5 bilhões até 2023 seriam necessários para encerrar a operação de lixões e aterros controlados no país, pouco mais da metade dos US$ 4 bilhões (R$ 13,5 bilhões,) que o país deve gastar nos próximos cinco anos por causa dos tratamentos de saúde e da recuperação ambiental causados pela manutenção dos lixões.
“Engana-se quem pensa que lixão não custa nada. Fizemos as contas. É um desperdício colossal”, finaliza.
Fonte: Folha.
27-07-2017