Pesquisas científicas indicam que a última vez em que o mundo esteve tão quente foi há 115.000 anos e que o planeta não experimentou níveis tão altos de dióxido de carbono em sua atmosfera desde 4 milhões de anos atrás. Estas são apenas algumas das consequências das mudanças climáticas. Para traçar um panorama dessas alterações em Belo Horizonte, a prefeitura desenvolveu uma análise de vulnerabilidade do município. Os resultados foram apresentados na Terça Ambiental de setembro, ocorrida no último dia 5, por Ana Maria Caetano, Analista de Políticas Públicas da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, e Henrique Pereira, da WayCarbon, que desenvolveu o estudo.
Apesar de considerado um fenômeno natural, o efeito estufa tem aumentado nas últimas décadas e gerado as mudanças do clima. Essas alterações são fruto do aumento descontrolado das emissões de gases de efeito estufa (GEE), como dióxido de carbono e metano. A liberação dessas substâncias na atmosfera ocorre por diversas atividades humanas, como transporte, desmatamento, agricultura, pecuária e geração e consumo de energia. Esta última, segundo Ana, é responsável por 60% a 90% das emissões, especialmente produzidas pela queima de combustíveis fósseis nas cidades.
No Brasil, aproximadamente 85% da população vive em áreas urbanas e, em 2020, estima-se que 90% dos brasileiros estarão vivendo em cidades. Isso contribui para a segregação espacial, desigualdades sociais e degradação ambiental, como aumento das emissões de GEE. Belo Horizonte é a sexta cidade mais populosa do país, com mais de 2.500 milhões de habitantes. Em 2016, ocupou o terceiro lugar entre as aglomerações urbanas brasileiras, perdendo apenas para São Paulo e Rio de Janeiro. "Se passarmos a ser uma cidade que investe em veículos limpos, usa mais coletivos e anda a pé, podemos resolver mais de 53% das nossas emissões", comentou Ana.
Para desenvolver o estudo, a equipe resgatou o histórico de eventos climáticos ocorridos na capital mineira: inundações, deslizamentos, ondas de calor e proliferação da dengue. Eles traçaram o cenário de 2016 e projetaram as alterações para 2030. As tendências de clima futuro indicam aumento de 32% na ocorrência de eventos extremos associados a chuvas intensas; e aumento de dez vezes das ondas de calor, impactando principalmente crianças e idosos. Em relação à dengue, a presença de umidade, aumento da temperatura mínima e do número de noites quentes potencializam a sobrevivência do Aedes aegypti.
O estudo elegeu os hotspots de vulnerabilidade: regiões norte, nordeste e leste. Este quadro é associado a locais com alta sensibilidade social, refletida pela baixa renda, ocupação inadequada do solo e precariedade das habitações. "As cidades precisam se posicionar e se preparar para mitigar os efeitos das mudanças climáticas", disse Pereira.
De acordo com Ana, a PBH está se aproximando de organizações da sociedade civil e comunidades escolares para analisar o prognóstico e pensar soluções para os hotspots, levando em consideração a possibilidade de investimentos somente naquelas áreas mais afetadas.
O estudo foi desenvolvido pela WayCarbon, em cooperação com a Prefeitura de Belo Horizonte e apoio da Fapemig, Finep, CNPq e KAS.
14-09-2017