Os compostos anti-inflamatórios do tipo glicocorticoides, de largo uso farmacológico, são classificados como contaminantes emergentes que fazem parte de um grupo de poluentes recentemente descobertos, e pouco monitorados, não contando ainda com limites máximos regulamentados na maior parte dos países.
No meio ambiente, essas substâncias, quando presentes na água, podem afetar os processos biológicos e, assim, interferir no sistema hormonal da vida selvagem e, também, dos seres humanos. Por esse motivo, o Setor de Análises Toxicológicas, da CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), iniciou em 2018, de forma inovadora, o monitoramento desses compostos em águas superficiais do Estado de São Paulo.
O estudo está sendo conduzido pelo gerente do Setor de Análises Toxicológicas, Gilson Alves Quináglia, e por Daniela Dayrell França e Walace Anderson Soares, também desse setor, contando ainda com a participação de Fábio Netto Moreno, gerente do Setor de Águas Interiores.
Hormônios esteroides
Os glicorticoides constituem uma classe de hormônios esteroides muito utilizados em medicamentos anti-inflamatórios potentes, sendo o cortisol o mais conhecido. O grupo desse medicamento inclui ainda a prednisolona, dexametasona, hidrocortisona e outros.
O bioensaio, denominado GR-CALUX, utiliza células de osso humano geneticamente modificadas para a detecção desses anti-inflamatórios. “Quando há a presença desses compostos, as células produzem luz”, explicam os pesquisadores.
O levantamento dessas substâncias, que deverá se estender por dois anos, prevê a coleta e análise de cerca de cem amostras de onze pontos da rede básica de monitoramento, incluindo mananciais destinados ao abastecimento público, como os reservatórios do Guarapiranga, Graças e Taiaçupeba.
Sistema hormonal
Na primeira fase dos estudos, será adotado o valor orientador de 21 ng DEX-eq/L, desenvolvido e publicado em 2013 por um grupo de pesquisadores holandeses no artigo “Trigger values for investigation of hormonal activity in drinking water and its sources using CALUX bioassays”, no qual propõem valores orientadores para os glicocorticoides e outras substâncias que interferem no sistema hormonal.
Explicando, Quináglia informa que “os resultados das amostras são expressos em termos de atividade utilizando como composto de referência, a dexametasona (DEX) em nanogramas equivalentes por litro (ng DEX-eq/L)”.
Misturas complexas
O aspecto inovador da pesquisa implica também um grande desafio. Segundo os pesquisadores, “como se trata de amostras ambientais, estamos diante de misturas complexas e de composição desconhecida que dificultam o uso de métodos químicos para quantificar compostos de forma individual”.Por isso, recentemente, o uso de bioensaios “in vitro” tem sido a ferramenta analítica mais utilizada para investigar a presença de contaminantes.
Para desenvolver esse trabalho, a CETESB adquiriu a licença para uso do bioensaio GR-CALUX da empresa BioDetection Systems (BDS), sediada em Amsterdam, na Holanda, que o desenvolveu, sendo detentora exclusiva da marca Calux®. A CETESB é a primeira instituição a utilizar este ensaio na América Latina.
Fonte: CETESB.
19-06-2018