Os efeitos ambientais do emprego de fosfato na formulação dos detergentes em pó comerciais destinados a limpeza de tecidos é um tema amplamente debatido. A despeito das vantagens técnicas do uso do fósforo para melhorar a eficiência do produto, a disseminação de seu uso possui relação com impactos sobre o meio ambiente e a qualidade da água. O presente trabalho tem como objetivo aduzir informações sobre a evolução do uso de fosfato nas formulações dos detergentes em pó e a composição dos produtos atualmente comercializados no Brasil, discutindo os aspectos sociais e ambientais envolvidos. A partir da análise de 30 diferentes amostras do produto, obtidas em diferentes regiões do país, verificou-se que os produtos brasileiros possuem, hoje, uma baixa concentração de fósforo, menor que 0,01% em peso e, portanto, representam um reduzido risco de alteração do nível trófico das águas. Os resultados indicam a necessidade de ajustar o conteúdo da legislação à prática do mercado e de aprimorar as políticas públicas relacionadas ao tema, em especial por meio da revisão da Resolução Conama nº 359/05. Também, apontam para a necessidade de se implementar um processo de comunicação da população acerca do assunto, de forma a contribuir para a manutenção do controle dessa fonte de fósforo nas águas e para o aumento da disponibilidade hídrica.
Introdução
Ao longo dos séculos, o uso de produtos de limpeza ofereceu uma grande contribuição para a melhoria das condições de higiene e da qualidade de vida. No entanto, em especial nos últimos 50 anos, intensificaram-se as discussões a respeito dos efeitos ambientais regionais e globais desses produtos, principalmente em decorrência do aumento considerável no seu consumo, dando início a debates sobre a relação entre população, comportamento de consumo, esgoto sanitário e meio ambiente.
Desde meados do século XX, produtores da Europa e de diversas outras regiões, pressionados por órgãos governamentais, passaram a modificar a formulação dos produtos e a utilizar componentes biodegradáveis, como os alquilbenzenosulfonados de cadeia linear, ou LAS; problemas relacionados com a eutrofização contribuíram para as discussões a respeito dos impactos ambientais no ciclo de nutrientes (DEVEY e HARKNESS, 1975; BRANCO e ROCHA, 1987; GLENNIE et al., 2002).
Nesse período, diversas pesquisas apontaram que a ocorrência de eutrofização pode ser influenciada ou acelerada pela expansão no nível de consumo de detergentes destinados à lavagem de roupas, contendo fósforo nas suas formulações. De maneira concomitante, a eutrofização passou a ser reconhecida como um problema de poluição em sistemas hídricos e reservatórios de inúmeras localidades do mundo. Ainda que a gestão do aporte de fósforo nas águas envolva a combinação de uma série de ações para controle de fontes pontuais e difusas de nutrientes, levando-se em conta a forma de uso e ocupação da bacia hidrográfica, os estudos desenvolvidos passaram a concluir pela importância de se regulamentar o uso de detergentes fosfatados.
Outra questão abordada com relação à restrição ao uso de fósforo nos detergentes, é a contribuição dessa medida para a desaceleração no ritmo de exploração das fontes do elemento no meio ambiente, e para a preservação das suas reservas naturais, que são finitas e não renováveis.
Por meio do presente trabalho, são apresentados dados a respeito da quantidade de fósforo atualmente empregada nos detergentes em pó comercializados no Brasil, verificando a conformidade dos produtos frente aos limites estipulados pela legislação que regulamenta o assunto, a Resolução nº 359/05 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Também, buscar retratar a evolução do assunto no Brasil e no mundo, discutindo os aspectos sociais e ambientais envolvidos.
Autores: Claudia Maria Gomes de Quevedo e Wanderley da Silva Paganini.
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27-11-2018