Nesta segunda-feira (11), o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), Marcus Vinícius Polignano, concedeu entrevista coletiva em que questionou o projeto proposto pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para tentar solucionar o problema das cheias que acontecem na avenida Vilarinho, no bairro Venda Nova.
De acordo com estudo realizado pelo projeto Manuelzão e Instituto Guaicuy, entidades ligadas ao Comitê, o projeto – que consiste na construção de dois túneis subterrâneos que supostamente controlariam as cheias que acontecem na Avenida Vilarinho no encontro com as Avenidas Dom Pedro I e Cristiano Machado – é insuficiente, visto que as canalizações e retificações dos cursos d’água aumentam o risco e a frequência das inundações. Como a água corre mais rapidamente no canal retificado e pavimentado, ela chega com maior velocidade aos fundos de vale, tornando as inundações mais críticas a cada ano.
“Nós entendemos que este é um projeto faraônico, que custa R$ 300 milhões, e que não foi conversado, nem com a sociedade, nem com o Comitê, nem com várias outras entidades, como o CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia). Nós temos que discutir esse projeto porque entendemos que existem outras soluções possíveis. Isso é uma forma de transferir o problema, porque o volume de água que sairia desse ponto seria jogado todo na região a jusante, na bacia do Izidoro, inclusive com impacto na região do Ribeiro de Abreu, onde nós já temos problemas de enchentes”, disse Polignano.Além disso, após o episódio de cheia ocorrido no final de 2018, que resultou na morte de quatro pessoas, o prefeito Alexandre Kalil declarou que a prefeitura faria um chamamento público de projetos conceituais para ser escolhido aquele que mais respondesse ao problema. No entanto, em janeiro de 2019, de forma inesperada, o prefeito apresentou uma concepção de um projeto único já predefinido sem que houvesse a possibilidade de apresentação de novos projetos. “Isso nos causou estranheza, porque o projeto prevê a criação de dois canhões hidráulicos na Vilarinho e não leva em consideração o fato de que, onde se tem alagamento, na verdade é consequência de um processo da bacia como um todo. Ou seja, você tem vários cursos d’água que levam essas águas para lá, impermeabilização do solo, canalizações em excesso e, por isso, você tem que entender o conjunto da bacia e não basta olhar para o ponto de alagamento isoladamente”, complementou Polignano.
O CBH Rio das Velhas busca fomentar participação da sociedade civil na formulação dos projetos para a região, baseados numa visão ecossistêmica, aprofundando o accountability societal como regra e princípio fundamental para a legitimidade das obras a serem realizadas, e, diante disso, solicita que sejam aprofundados e ampliados os debates relativos às contenções de cheias na Vilarinho e solicita à PBH que abra o debate para novos projetos e ideias. “O que nós estamos pedindo é que não se licite esse projeto, que se abra a possibilidade de conversar e debater toda a situação da bacia, que se faça a avaliação de todas as bacias de detenção hoje lá existentes, porque nós temos lá hoje várias bacias absolutamente abandonadas, que são hoje depósitos de lixo e esgoto e que não estão funcionando, e que aí sim a gente procure estabelecer todo um estudo para acompanhar e avaliar como resolver e tentar enfrentar essa complexidade do Vilarinho”, concluiu o presidente do Comitê.
Também presente na coletiva, o presidente do Conselho de Venda Nova e líder do Movimento ‘Eu Vilarinho’, Ricardo Andrade, destacou que as soluções para a região devem considerar o conjunto de problemas socioambientais ali instalados e não somente as inundações. “O que a gente quer apontar aqui é que o Vilarinho não é um problema somente na época das chuvas. Os problemas são o ano inteiro: falta de água, esgoto, moradias em situação de risco”.
13-02-2019