Pesquisa vem sendo feita há mais de dez anos, e chama a atenção para o comportamento dos consumidores e o tratamento da água na região de Campinas/SP.
Um estudo feito pela Unicamp, em Campinas (SP), sobre a qualidade da água identificou 58 substâncias presentes em rios, esgotos e também na água potável que chega nas torneiras. São compostos que fazem parte da formulação de remédios, hormônios, inseticidas e até cocaína. Os riscos apontados vão de infertilidade a câncer, a longo prazo.
A pesquisa vem sendo feita há dez anos e foram coletadas amostras em mais de 800 pontos, inclusive subterrâneos. De acordo com o estudo, 90% das amostras foram colhidas na Região Metropolitana de Campinas (RMC).
“Nosso sistema de saneamento básico precisa ser repensado para atender a esse novo padrão de consumo que estamos vivendo”, explica Cassiana Montagner, professora do IQ.
Segundo os especialistas do Instituto de Química (IQ), as concentrações encontradas desses produtos são baixas, e não causam um efeito imediato no organismo. No entanto, têm potencial risco para o sistema nervoso e endócrino das futuras gerações.
“Tem um risco associado que é justamente da exposição a pequenas concentrações durante um período estendido de tempo”, afirma.
Menstruação precoce, infertilidade masculina, obesidade, câncer de mama e de útero são os principais problemas de saúde apontados pelos pesquisadores como efeitos do contato com a água contaminada.
Substâncias identificadas
Rios – A cafeína foi encontrada em 97% das amostras analisadas. O triclosan, substância usada em cosméticos, como sabonetes, loções e desodorantes, foi identificado em 43%.
Água potável – A quantidade de atrazina, um herbicida usado na agricultura, chamou a atenção dos pesquisadores, sendo identificada em 73% das amostras.
Esgoto bruto e tratado – Em todas as amostras analisadas foi constatada a presença de cafeína e um composto da cocaína, a benzoilecgonia.
‘Novo padrão de consumo’
Os produtos químicos usados por adultos e crianças descem ralo abaixo durante o banho o a lavagem das mãos. Vão para os rios e, dependendo da qualidade do tratamento da água de cada cidade, podem não ser totalmente eliminados.
“Temos uma demanda por novos produtos, que é evidente. Isso melhorou a qualidade de vida, melhorou a expectativa de vida, mas a gente tem que entender que isso tem os seus efeitos no ambiente”, afirma Simone.
A pesquisadora alerta para o descarte irregular de medicamentos no lixo comum. Eles podem causar danos no meio ambiente e provocar reflexos negativos a longo prazo.
“Medicamentos que não foram usados ou que estão no prazo vencido, ao invés de simplesmente descartar no esgoto ou mesmo no lixo, saber que pode retornar isso para uma farmácia ou empresa, que vai fazer o tratamento adequado para esses fármacos”.
01-04-2019