Confira mais uma entrevista do Projeto “Perfil ABES-MG", que destaca a trajetória de Maeli Estrela Borges,Conselheira e ex-vice-presidente da Seção Minas Gerais da ABES.
O objetivo do programa é criar um espaço para apresentar o perfil profissional de seus associados permitindo assim, que os colegas possam conhecer um pouco de sua história.
Fale sobre sua trajetória acadêmica/profissional
Graduei-me em Arquitetura pela Escola de Arquitetura da UFMG, em 1967, continuei na mesma escola onde concluí o Curso de Especialização em Urbanismo. Em 1970 concluí o Curso de Engenharia Sanitária na Escola de Engenharia da UFMG, que me abriu as portas para uma atuação no Saneamento.
Dentre as áreas do saneamento, você escolheu atuar na área de resíduos sólidos. Como ocorreu esta escolha?
Em 1971, fui admitida para trabalhar na Prefeitura de Belo Horizonte, no Departamento de Engenharia Sanitária (DES) da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSU), para atuar na limpeza urbana da Capital.
Como Assessora do DES/SMSU fiz um curso de Planejamento Global de Sistemas de Limpeza Urbana no Estado da Guanabara, ministrado pela Organização Pan-Americana da Saúde, ABLP (Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública) e Instituto de Engenharia Sanitária SURSAN-RJ. O curso me proporcionou amplo conhecimento das questões dos resíduos sólidos e da limpeza urbana, sendo um incentivo para permanecer atuando no setor.
A partir daí, acompanhei o desenvolvimento do primeiro Plano Diretor de Limpeza Urbana de Belo Horizonte, emitindo os pareceres de aceitação dos produtos do Plano. Este Plano Diretor foi muito importante para a limpeza urbana e a gestão dos resíduos sólidos da Capital, pois antecedeu a criação da SLU (Superintendência de Limpeza Urbana) de Belo Horizonte, criada sob a modalidade de autarquia, com autonomia técnica, administrativa e financeira e que iniciou suas atividades já de forma planejada, tendo como referência o Plano Diretor.
Fui a primeira servidora da Autarquia, com matrícula nº 002 e, na SLU, atuei por 34 anos, exercendo vários cargos, inclusive o de Superintendente de Limpeza Urbana de 1989 a início de 1993. Neste período fui agraciada pela Câmara Municipal de Belo Horizonte com o título de Cidadã Honorária de Belo Horizonte e recebi a Medalha Mérito Legislativo e a Medalha Chico Mendes.
Como você conheceu a ABES?
Quando era estudante no Curso de Engenharia Sanitária, exerci o cargo de Coordenadora do Setor Técnico do Projeto Rondon. Para capacitar os participantes do Projeto Rondon, que eram enviados para locais distantes em outros estados, busquei a ajuda de dois professores do curso: o Dr. Hélio Lopes e o professor Ysnard Machado Ennes.
Durante o curso de capacitação o Professor Ysnard convidou-nos para participar da ABES, foi quando me inscrevi como associada e passei a participar da ABES com assiduidade, tanto em cargos da Diretoria, quanto em diversas atividades afins e a ministrar cursos sobre resíduos sólidos urbanos e resíduos de serviços de saúde.
Você já atuou como presidente e vice-presidente da ABES-MG, além de participar das diversas atividades e ministrar cursos. O que toda essa atuação agregou para sua vida profissional?
Fui vice-presidente na gestão do Engenheiro Márcio Tadeu Pedrosa, com o qual colaborei na organização do 24º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, realizado em Belo Horizonte, em 2007, e cuja arrecadação nos possibilitou a compra da nossa sede na Rua São Paulo, 824, 14º andar. Mais recentemente, fui vice-presidente na gestão do Engenheiro Rogério Pena Siqueira e, na atual gestão, participo do Conselho Deliberativo da ABES-MG e também como instrutora de cursos sobre resíduos sólidos.
A ABES é um colegiado de profissionais altamente qualificados, com posicionamentos técnicos de alta relevância para a engenharia sanitária e o meio ambiente do país. Neste contexto, sempre temos muito a aprender. Acredito que minha presença na ABES-MG ampliou mais a minha visibilidade como profissional do setor de resíduos sólidos.
Conte um pouco sobre os desafios e as vantagens de atuar no setor público?
Desafios acontecem tanto no setor público quanto no privado. As oportunidades é que devem ser valorizadas. No setor público e na vida acadêmica fui privilegiada pelas oportunidades que tive e que soube aproveitá-las bem.
No setor público tive as oportunidades de realizar trabalhos inéditos e coordenar equipes para garantir a trajetória da SLU, como por exemplo: o planejamento e implantação do primeiro aterro sanitário de Belo Horizonte na BR-040; a elaboração do Regulamento de Limpeza Urbana de Belo Horizonte, com vigência de 1979 até 2012; a criação de normas de segurança do trabalho nas atividades operacionais da SLU; a primeira presidência da CIPA/SLU (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho); participação na descentralização operacional da SLU, que antecedeu a criação das administrações regionais da PBH; criação de metodologia para o planejamento da varrição pública e da coleta de resíduos sólidos urbanos; participação no PAI (Plano de Ação Integrada) da SLU e Secretaria Municipal de Educação visando a educação para a limpeza urbana; coordenação da criação da legislação e normas técnicas de resíduos de serviços de saúde; presidência da COPAGRESS (Comissão Permanente de Apoio ao Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde) de Belo Horizonte; dentre outros assuntos.
Como atividades acadêmicas, além dos inúmeros cursos sobre resíduos sólidos, destaco que fui professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo das Faculdades Integradas Izabela Hendrix, desde a primeira turma até a 24ª turma do curso, ministrando as disciplinas: Higiene da Habitação, Conforto Ambiental e Ética Profissional. No Curso de Especialização em Medicina do Trabalho da Fundação Lucas Machado/Faculdade de Ciência Médicas, por 18 anos fui a responsável pela disciplina Saneamento e Meio Ambiente. No Centro de Atualização em Direito – CAD/Universidade Gama Filho, por 12 anos, ministrei a disciplina Resíduos Sólidos.
Como você vê o papel da ABES para o setor e para a sociedade?
A ABES, pela sua estrutura de amplitude nacional e pelo seu quadro de associados de alta qualificação, é a associação com grande credibilidade nas questões de saneamento, de meio ambiente, de políticas públicas para os setores, além de sua vocação para a capacitação de pessoal e participação em Conselhos, Comissões e Comitês de Bacias Hidrográficas.
Quais são suas expectativas para o congresso da ABES?
Em maio de 2023 ocorrerá em Belo Horizonte o 32º Congresso da ABES, evento de maior relevância no setor, com abordagem de temas atuais, apresentação de trabalhos técnicos de qualidade e realização de uma feira de ciência e tecnologia. Cada congresso realizado pela ABES supera o anterior em qualidade organizacional e participação. Esperamos que o 32º Congresso da ABES, pelo esmero na sua organização, seja o evento do ano.
Conte um pouco sobre sua vida pessoal.
Nasci em Ipameri – Goiás e em 1960 mudei-me para Belo Horizonte para dar continuidade aos meus estudos, pois na época não havia ainda no estado o curso de arquitetura.
Aqui casei-me com o saudoso Antônio Cândido Martins Borges, médico-veterinário e pesquisador, que teve sua trajetória profissional na área da agropecuária, em especial no controle da saúde animal. Foi coordenador do GERFAMIG – Grupo de Trabalho de Erradicação da Febre Aftosa em Minas Gerais, o primeiro Diretor Geral do IESA – Instituto Estadual de Saúde Animal e primeiro Diretor Geral do IMA – Instituto Mineiro de Agropecuária de Minas Gerais. Era um defensor da profissão tendo sido Presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária e ocupado vários outros cargos, inclusive de Presidente do CBRA - Colégio Brasileiro de Reprodução Animal. Com o seu trabalho e das equipes que conseguiu formar, entre várias conquistas, destaco que foram responsáveis pela erradicação da febre aftosa e brucelose em Minas Gerais.
Tivemos 3 filhos, todos casados, e 5 netos: Lavínia, médica ginecologista e obstetra do HC/UFMG e mãe de Maia e Ian; Leonardo, professor de direito ambiental internacional no IDP/DF e no IOB/SP e advogado da CNI, pai da Letícia; Lílian, agrônoma e bióloga, professora na UFV/Campus Florestal e mãe de Bernardo e Bianca.
Sempre fui muito realizada com as escolhas que fiz, tanto no setor público quanto na área acadêmica. Um complementa o outro. E como disse Cora Coralina: “Feliz é aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.