SME HOMENAGEIA MAELI ESTRELA BORGES

A arquiteta, engenheira sanitarista e conselheira da ABES-MG, Maeli Estrela Borges, recebeu da Sociedade Mineira de Engenheiros (SME) o Prêmio Maura Menin 2024, em reconhecimento por sua liderança e brilhante atuação na engenharia sanitária. A premiação valoriza seu relevante trabalho na aplicação de conhecimentos em Saneamento e Meio Ambiente, e seu compromisso com a qualidade de vida das pessoas.

A solenidade de entrega da medalha, realizada em 22 de agosto de 2024, foi marcada por muita emoção e contou com a presença de dezenas de associados da ABES-MG. Além de amigos e colegas da Prefeitura de Belo Horizonte, da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), e da Associação de ex-alunos da UFMG.

O prêmio Maura Menin Teixeira de Souza foi instituído para dar visibilidade à atuação de mulheres no exercício das profissões ligadas à ciência, tecnologia, engenharia e matemática e coloca a SME ativamente na Agenda 2030 da ONU, em particular no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável que incentiva ações para que meninas e mulheres recebam os mesmos incentivos e oportunidades educacionais, profissionais e de participação social.

Trajetória

Maeli veio de Goiás para Belo Horizonte, ainda muito jovem, para estudar, onde optou pelo curso de Arquitetura. Sempre pensando em trabalhar para ajudar as comunidades e pessoas carentes. Conhecendo esse perfil, dois professores a aconselharam a cursar também engenharia sanitária, o que muito ajudou a concretizar sua vocação e a tornar-se uma engenheira social, como ela própria se denomina.

Toda sua formação se deu na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), entre o final da década de 60 e início da década de 70. Primeiro formou-se em arquitetura e urbanismo e depois cursou engenharia sanitária. Na mesma universidade, fez o mestrado em engenharia sanitária, sendo classificada em primeiro lugar no concurso de seleção. Formação que a levou a se tornar professora nas áreas de saneamento, resíduos sólidos e meio ambiente.

Em sua busca por conhecimento fez muitos cursos de extensão e aperfeiçoamento como: chefia e liderança; conservação ambiental, planejamento de sistema de limpeza urbana; treinamento e prevenção de acidentes; aterros sanitários; organização e administração de abrigos improvisados; drenagem e controle de erosão urbana; aperfeiçoamento em saúde ambiental; gestão de resíduos de serviços de saúde; tratamento e disposição final de serviços de saúde; entre outros.

Conhecimentos que pavimentaram uma carreira brilhante com vasto currículo e experiência, principalmente sobre os temas de limpeza urbana e resíduos sólidos. Como servidora pública, ao terminar seu curso de graduação, foi trabalhar na Prefeitura de Belo Horizonte como assessora de engenharia sanitária para cuidar prioritariamente da limpeza urbana. Seu primeiro projeto oficial, em 1972, foi a elaboração de um projeto arquitetônico para o centro de profilaxia da raiva, no bairro São Bernardo. O local produzia vacina ante rábica e abrigava cães de rua abandonados. Criou também um sistema estatístico para os relatórios de limpeza urbana da capital. Em seguida, fez o acompanhamento da elaboração do Plano Diretor de Limpeza Urbana de Belo Horizonte, concluído no final de 1972, dando início a sua trajetória na SLU. A Superintendência de Limpeza Urbana da capital foi um órgão criado a partir do processo de planejamento, com base no Plano Diretor, o segundo do país, e que dava as diretrizes básicas para o seu funcionamento.

Maeli foi a primeira servidora admitida oficialmente pelo órgão, onde trabalhou por 32 anos, de 1973 a 2004, quando se aposentou. Na SLU, ocupou diversos cargos distintos, entre os quais o mais alto, a superintendência, entre os anos de 1989 e 1993. Seu trabalho na SLU sempre foi muito respeitado e reconhecido. Maeli foi a responsável pela organização e valorização dos garis, ao ponto de as crianças passarem a tê-los como heróis.

Limpeza urbana e resíduos sólidos são assuntos que sempre atraíram Maeli. Como engenheira sanitarista, elaborou vários planos diretores de gestão e projetos executivos de limpeza urbana e resíduos sólidos, para diversos municípios de Minas Gerais, dos quais dois se destacaram, o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos dos Serviços de Saúde e Estabelecimentos Públicos e Filantrópicos de Araxá, 18 estabelecimentos de saúde ao todo. E os planos de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde das unidades do campus saúde UFMG (Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina e Escola de Enfermagem). Foi a primeira presidente da COPAGRESS (Comissão Permanente de Apoio ao Gerenciamento dos Resíduos dos Serviços de Saúde de Belo Horizonte, sendo membro efetivo, desde sua criação, em 1988, até os dias atuais. Trabalhou também como consultora na Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte, na modelagem do Plano Metropolitano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos dos Serviços de Saúde, para os 50 municípios da Região, entre 2012 e 2015. Presidiu também, por oito anos, em quatro mandatos intercalados, a COPAGRESS.

Na comemoração por seus 30 anos de serviços prestados a SLU, em 22/10/2004 fez constar na sua ficha funcional um elogio. “por seu desempenho, dedicação e profissionalismo, que em muito contribuiu com esse órgão, em especial com relação as atividades de manutenção e estabelecimento de procedimentos normativos, quanto aos planos de gerenciamento de resíduos de saúde.

Como professora, durante 25 anos, entre 1982 a 2007, lecionou nos cursos de Arquitetura da Faculdade Metodista Izabela Hendrix, com a disciplina de higiene e adaptação, conforto ambiental e ética profissional. De 1982 a 2000, lecionou a disciplina de meio ambiente na faculdade de ciências médicas, Fundação Lucas Machado, no curso de especialização em medicina do trabalho. Após esse período, atuou em diversas instituições como professora convidada, ensinando sobre resíduos sólidos, dentre elas, a Puc Minas, o Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental (DESA/ UFMG), além de cursos de especialização em saneamento no CEFET/UFMG, e cursos de especialização em engenharia de segurança do trabalho, na Escola de Engenharia da UFMG, Funed, IETEC, Universidade Gama Filho e diversos outros cursos de Saneamento da ABES.

Não poderia faltar em sua trajetória sua atuação em entidades de classe da engenharia como na diretoria da SME e da ABES-MG, onde foi diretora e vice-presidente, e ainda, membro da Associação dos ex-alunos da Escola de Engenharia da UFMG.

Participou e organizou inúmeros congressos e seminários, simpósios, comissões e grupos de trabalho, sempre defendendo soluções para os resíduos sólidos urbanos e especiais. Durante sua trajetória profissional, recebeu inúmeras homenagens por sua vida de entrega e dedicação a profissão e ao bem-estar social.

Palavras da Maeli Estrela Borges

“As competências que adquiri nos cursos de arquitetura urbanismo e engenharia sanitarista me levaram a exercer minha vocação de engenheira social.”

“Não posso me lastimar, pois a vida foi sempre muito generosa comigo. Meus pais, muito avançados para a época, permitiram que seus seis filhos saíssem de casa muito cedo, do interior de Goiás, para buscar em cidade maiores uma formação acadêmica e melhores condições de trabalho.

No meu caso, concluído o curso de graduação em arquitetura e os cursos de urbanismo e engenharia sanitária, todos na UFMG, tive oportunidade de trabalhar em uma atividade que abriu muitas portas, a limpeza urbana e a gestão dos resíduos sólidos de belo horizonte.

Casei-me com Antônio Cândido Martins Borges, tivemos três filhos, Lavinia, Leonardo e Lilian, que muito me alegram. Repassamos a eles nossos princípios e investimos em educação. Lavinia é médica especialista em reprodução humana; Leonardo, advogado ambientalista e professor de direito ambiental internacional. Lilian é bióloga, agrônoma e professora universitária. Minha família é sem dúvida meu maior tesouro.

Meu marido e eu tínhamos os mesmos ideais. Preservar a saúde e a qualidade de vida da população. Ele como médico veterinário, dirigiu órgãos no Estado de Minas Gerais com atribuições de controle de zoonoses e proteção da saúde animal, com destaque para a erradicação da febre aftosa no estado. Graças a seu trabalho, e a competente equipe que ele formou, Minas Gerais foi declarada, em 2022, área livre de vacinação contra a febre aftosa, representando uma economia para os produtores de 700 milhões de reais por ano com o custo de vacina e manejo, contribuindo para a abertura de mercado de proteína para o agro brasileiro.

Eu, atuando no saneamento e magistério tive muitas oportunidades de trabalho. Começando como analista do primeiro plano diretor de limpeza urbana de Belo Horizonte que deu origem a criação da SLU. Na Superintendência de limpeza urbana, quebrando o tabu de ser uma atividade só para homens, fui admitida com a matrícula número 002, no cargo de engenheira assistente do superintendente, abrindo caminho para muitas profissionais mulheres. O primeiro superintendente foi o saudoso engenheiro e professor Marcos Costa Câmara, que muito contribuiu para o crescimento da SLU.

Participei de muitas conquistas na SLU ao longo dos 34 anos que atuei, tanto no órgão, quanto na prefeitura. Defendi a admissão das mulheres na varrição pública da capital; coordenei a implantação do primeiro aterro sanitário da BR-040, solução conjunta com a usina de triagem e reciclagem dos resíduos orgânicos, que colocaram fim, em 1975, ao lixão chamado boca do lixo.

Coordenei a comissão que elaborou a primeira legislação de limpeza urbana e regulamento de limpeza da capital, com vigência de 1978 a 2012; Criei a metodologia de planejamento para a coleta de resíduos sólidos urbanos para a varrição pública da capital; participei da descentralização operacional da SLU em distritais de limpeza urbana com sedes próprias, com a inauguração de 14 sedes de apoio a varrição, com o objetivo de humanizar as condições de trabalho dos servidores. Presidi a primeira CIPA Comissão Interna de Prevenção a Acidentes de trabalho da SLU e coordenei como assessora técnica os serviços de segurança do trabalho, medicina do trabalho e serviço social prestados aos servidores do órgão.

Participei do projeto de educação para a limpeza urbana, desenvolvido nas escolas públicas da capital, visando a valorização do trabalho do gari e a conservação da limpeza da cidade. Participei da implantação do projeto piloto de coleta seletiva no bairro Santa Inês; incentivei o uso do gás metano gerado no aterro sanitário da BR040 como combustível em veículos de coleta de resíduos dos serviços de saúde da SLU. Introduzi a varrição pública mecanizada em logradouros com maior risco de acidentes; e nos últimos anos na SLU, antes de me aposentar em 2004, dediquei-me aos resíduos dos serviços de saúde, coordenando os grupos de trabalho que elaboraram as normas técnicas e legislação sobre esses resíduos.

Como professora destaco minha participação no curso de arquitetura e urbanismo das Faculdades Metodistas Integradas Izabela Hendrix, curso de medicina do trabalho da Fundação Lucas Machado, Faculdade de Ciências Médicas, de Direito Ambiental do Centro de Atualização em Direito, nos cursos sobre resíduos sólidos ministrados no IETEC.

Aprendi muito nessa atividade. Como dizia minha conterrânea, Cora Coralina: Feliz é aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.

Por onde passei fiz muitas amizades, uma das razões de estar aqui sendo homenageada. Agradeço a todos que me fizeram companhia nessa caminhada.