GESTÃO PARA REDUÇÃO DE PERDAS DE ÁGUA



No intuito de contribuir com a redução de perdas de água nos sistemas de distribuição, a ABES-MG e a Agência Reguladora dos Serviços de Água e Esgoto de Minas Gerais (Arsae-MG) realizaram, em 8 de maio, o I Seminário de Regulação e Gestão de Perdas de Água. O evento marcou também a criação da Câmara Temática de Gestão de Perdas da ABES-MG, que será coordenada pelo associado Alexsandro Barral, com apoio do diretor Rodrigo Polizzi.

Para Rogério Siqueira, presidente da ABES-MG, a criação da Câmara é de grande importância para Minas Gerais, que ainda está muito atrasada em relação ao volume de perdas. “Entendo as dificuldades do Brasil em relação à infraestrutura, mas, temos que ter metas, percorrer o caminho e ir construindo as coisas”, disse.

Segundo ele, é inaceitável admitir uma perda média de 35%, tanto do ponto de vista econômico, quanto ambiental e social. “Nesse sentido, a ABES-MG está lançando a Câmara Técnica de Gestão de Perdas, para a qual convido todos a participar, assim como a se associarem à ABES. Afinal, uma associação sem associados não tem significado. Acredito também que a solução para as grandes questões do Brasil passa pelas organizações. A sociedade civil organizada tem grande importância dentro do quadro político e econômico do país”, completou.



 

Dados de 2015, do Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento (SNIS), apontam que, juntas, as capitais brasileiras perdem 1,7 bilhões de metros cúbicos por ano. Segundo Barral, o Brasil perde anualmente um volume de água tratada suficiente para abastecer toda a Região Sudeste e Centro-Oeste juntas. "Nas áreas de ocupação subnormal, as perdas chegam a 102 m³ por habitante/ano. E que atuando, somente nessas áreas de vulnerabilidade social, é possível reduzir as perdas no Brasil, em 27% e aumentar o faturamento das companhias".

O diretor geral da Arsae, Gustavo Cardoso, parabenizou a ABES-MG pela iniciativa e disse que o trabalho será de grande relevância para o setor de saneamento. Gustavo falou também dos desafios para reduzir as perdas. “Precisamos melhorar a qualidade das informações, ter mais precisão nos dados de macro e micromedição e garantir que os investimentos não sejam apenas para evitar o aumento das perdas, mas para reduzir esses índices”. Ele destacou que a função da regulação é incentivar tarifariamente, definir metas, fazer a penalização, mas sobretudo, colocar essa discussão para a sociedade na tentativa de definir indicadores que contemplem a redução de perdas.


 

O coordenador da CT Gestão de Perdas, Alexsandro Barral, apresentou o panorama das perdas de água nos sistemas de abastecimento do Brasil e sua experiência no controle e redução. “Estou otimista com a oportunidade e o desafio de coordenar a Câmara Técnica de Resíduos. Temos muito trabalho pela frente pois, tanto as perdas reais, quanto as aparentes tendem a aumentar se nada for feito”, alertou.

Para Juliana Almeida Dutra, diretora de projetos da Deep (Desenvolvimento e Envolvimento Estratégico de Pessoas e Clientes), empresa parceira da companhia de saneamento de São Paulo, Sabesp, e, esse não é um trabalho sonhador, mas sim um trabalho que visa ter resultado econômico e financeiro no final. “Para isso, temos que ir até essas comunidades, olhar para as pessoas, e ter uma outra maneira de olhar para a ligação de água”, ressaltou.

Juliana, que também é coordenadora adjunta da Câmara Temática de Prestação de Serviços e Relacionamento com o Cliente da ABES, apresentou a experiência e as práticas adotadas na redução de perdas em áreas de alta vulnerabilidade. Ela contou que um dos contratos tinha como meta realizar 6.637 ligações, mas ao final, para atingir os resultados esperados, foram feitas quase 8000 ligações dentro do Programa Água Legal. A iniciativa da Sabesp visa levar água potável a 160 mil imóveis na Grande São Paulo, garantindo mais saúde e qualidade de vida para cerca de 600 mil moradores, que deixarão de usar ligações clandestinas para se abastecer, e evitando a perda de 3,3 bilhões de litros de água tratada.


 

O Coordenador da Câmara Temática de Gestão de Perdas da ABES-MG, ressaltou que temos realidades distintas nas cidades brasileiras mas, de uma forma geral, não adianta apenas implantar um sistema é necessário dar manutenção para que as perdas não voltem a subir. “Quando reduzimos em 10% o índice de perdas ocorre um aumento de 6% no faturamento da empresa e, em dois anos, o investimento retorna. Além disso, a longo prazo isso também pode representar a redução das tarifas.

O engenheiro da Sabesp e ABES-SP, Maycon Abreu, abordou os desafios para o atendimento da Meta Regulatória e o Plano de Negócios de Redução de Perdas da Região Metropolitana de São Paulo. Segundo ele, existe dificuldade por parte da Agência para entender os fatores que influenciam as perdas. “O desafio de quem trabalha com perdas, mais do que reduzir as perdas, é o esforço para manter esse nível inalterado. A Meta Regulatória da Sabesp prevê ações para controle de fraudes, troca de hidrômetros, troca de rede, de ramal, implantação de válvulas redutoras de pressão, implantação de DMC, pesquisa de vazamentos em redes de distribuição e adutoras e o Programa Água Legal, que já legalizou cerca de 73 mil ligações”, contou.


 

Uma das tecnologias utilizadas para gerir perdas aparentes foi apresentada por Antônio Nahas da empresa NMC. A aplicação de metodologia de geoprocessamento para identificação de perdas, consegue avaliar variáveis, cruzar dados da ortofoto, consulta cadastral e outros filtros geográficos e detectar as perdas.

 Também foram apresentaram as boas práticas no controle de perdas do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Itabira, da Companhia de Saneamento Municipal de Juiz de Fora (Cesama), e da Copasa. Entre os desafios eles destacados por eles está o relevo e a dificuldade de controlar zonas de pressão, a necessidade de substituir as redes antigas e hidrômetros.

 

Segundo Welington Jorge Santos, da Copasa, o custo mensal com manutenção na Região Metropolitana é de R$ 11,6 milhões. O desafio para reduzir perdas não pode ser apenas da engenharia mas também social. O sucesso na redução de perdas depende de um trabalho conjunto. Hoje, as perdas reais representam um terço, os outros dois terços, são fraudes na rede de distribuição”, concluiu.

O Coordenador de Regulação e Fiscalização da Arsae, Rodrigo Polizzi, ressaltou que o papel da Agência Reguladora é propor metas possíveis de serem atingidas pelos prestadores de serviços. “O objetivo da regulação não é impor condições inatingíveis, mas sim metas que sejam possíveis de serem alcançadas e tragam benefícios para os usuários. Nesse sentido, o seminário serviu para colocar o assunto em pauta, discutir os desafios e entender melhor os prestadores de serviços”, finalizou.